Prefácio

As solidões possíveis
Por Whisner Fraga

Hoje a sociedade impõe a padronização dos relacionamentos, da violência, a vida que regressa à sua origem de insensatez e cautérios. O escape da impulsividade, da velocidade, a procura por significações, simbologias, para que o ânimo supere a indiferença e para que, paradoxo, exista a possibilidade de continuar e isso só é lícito por meio do próprio homem. Mesmo que esse ir adiante signifique apenas isso. E nem relancear o passado.

Este romance da Carla me ganhou desde o início, com seus diálogos judiciosos, uma imagem belíssima moldada por personagens corriqueiros: isso é grande literatura. Aqui há solidão, desesperança, amizade, arte, intrigas, mas tudo permeado de uma ironia refinada, de dúvidas e da presença da cidade grande, esse mito aterrorizante que constrói individualidades asfixiadoras.

De desajustados, Kalé, Alice, Paulo, até que... Não, não vou contar o final, mas é isso: egoísmos. E daí para as pessoas se usarem é simples, sem maiores traumas, pois amanhã é outro dia, levanta, sacode a poeira, e depois quem disse que o trabalho não serve para nada? Na busca de si, o que não importa é o outro, mera pedra (necessária) no percurso.

E um escritor que faz da menina intrigante o seu laboratório.

no desespero aceitam a conveniência, lógico, almejando uma proximidade a que, obrigados, já que sob único teto, e não é isso dizer o contrário do que se pensa, e não é justamente o que fazemos todo dia? É anacrônico,feio, nossos amigos vão rir da nossa cara, não dá para falar de amor, de outros romantismos, e o que discutir da crença em alguém? Estamos ali, mentimos: estou entregue, outras asneiras, mas aguardando atento o bote, que, pior, virá. Mas vem porque nos dispomos a isso, a traição provocada, para então aguardarmos regozijados a canonização. Viu?, eu estava certo o tempo todo.
A valorização da dor, essa expiação necessária.

E o suicídio, nisso concordo com Camus, é a única discussão relevante; é preciso cuidado com essas pessoas sorridentes. Ele está aqui, como uma saída - a mais desesperada -, mas ainda sim presença constante, nem como assombrando, mas descortinando um novo e empolgante trajeto, ainda que eternamente desconhecido.
E é mais, é o desconhecimento que motiva os personagens, é em função dessa obscuridade que são justificadas as atitudes, não importam as consequências, o empirismo fundamental ao crescimento, assim acreditam, e depois o que é um valor diante da vida, essa coisa pulsante que exige mais vida para então reclamar mais vida?

E é mais, é o desconhecimento que motiva os personagens, é em função dessa obscuridade que são justificadas as atitudes, não importam as consequências, o empirismo fundamental ao crescimento, assim acreditam, e depois o que é um valor diante da vida, essa coisa pulsante que exige mais vida para então reclamar mais vida?

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