Os estranhos
por Nelson de Oliveira
Kalé e Alice sofrem de fobia social. Têm medo do convívio com as pessoas, do comportamento padronizado, por isso preferem viver emocionalmente isolados. Ele é escritor, ela é cineasta. Quando se conhecem, ele está tentando escrever um romance e ela faz vídeos com pessoas emocionalmente perturbadas. Kalé, em busca de sossego para escrever, aluga um quarto no apartamento de Alice. Começa o jogo de gato e rato, de presença e ausência.
"Os Estranhos" é um romance delicado, feito de pequenos segredos e ásperas confissões. Na primeira parte, quem narra é Alice. Na segunda, o foco passa para Kalé. A terceira fica a cargo de um narrador onisciente, que arremata a história.
Ao longo da trama, lealdade e confiança são categorias importantes, postas em questão, pois dentro do romance de Carla Dias há o que Kalé começou a escrever, homônimo, secreto, sobre a vida de Alice. Tudo o que na vida real é amargo e azedo, nesta ficção aparece com a apropriada doçura. Às vezes, é muito bom poder observar alguns demônios de perto, pacificados por um suave estilo literário.
Resenha publicada no "Livros, discos, filmes",
Guia do Jornal Folha de São Paulo , em 27/11/09.
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